
Maputo – O Governo de Moçambique anunciou, esta terça-feira, a garantia de fornecimento contínuo de combustíveis durante os próximos 12 meses, numa medida considerada estratégica para estabilizar o mercado interno e mitigar os efeitos da actual crise cambial que afeta a economia nacional.
Acordo com a Vitol: Financiamento de US$ 600 Milhões e Pagamento Diferido
A decisão surge na sequência da assinatura de um memorando de entendimento com a multinacional Vitol, considerada uma das maiores fornecedoras mundiais de produtos petrolíferos. O acordo prevê um diferimento do pagamento por até 150 dias após a descarga dos combustíveis, um alívio relevante face à actual escassez de divisas.
Além disso, a Vitol disponibilizará uma linha de crédito no valor de 600 milhões de dólares americanos – o equivalente a cerca de 37,8 mil milhões de meticais –, para suportar a cadeia de fornecimento durante a vigência do contrato.
Detalhes do Fornecimento: Gasolina, Gasóleo e Jet A1
O fornecimento acordado abrange um total de 2,3 milhões de toneladas métricas de combustíveis, dos quais se destacam:
- 580 mil toneladas de gasolina;
- 172 mil toneladas de gasóleo;
- 100 mil toneladas de combustível de aviação (Jet A1);
- 18 mil toneladas adicionais de gasóleo previstas por ano.
Segundo o Executivo, este volume garante não apenas o abastecimento do sector rodoviário e da aviação, mas também assegura a continuidade da actividade industrial e agrícola, que dependem fortemente destes combustíveis.
Impacto Económico: Preservação de Reservas e Estímulo às Exportações
O acordo permitirá ao país proteger as Reservas Internacionais Líquidas, actualmente sob forte pressão, num momento em que a dívida interna moçambicana foi classificada como ‘lixo’ por agências internacionais de notação financeira.
O Governo acredita que este modelo dá espaço ao sistema bancário nacional para emitir garantias e efetuar pagamentos conforme a disponibilidade cambial, ao mesmo tempo que concede tempo para a economia recuperar liquidez, sobretudo através do incremento das exportações.
Concorrência Pública e Transparência no Processo
Apesar de algumas vozes no sector privado questionarem a escolha da Vitol, alegando falta de transparência, o Ministério dos Recursos Minerais e Energia veio a público garantir que a contratação seguiu os trâmites legais, tendo sido conduzida pela IMOPETRO por via de concurso público.
“A Vitol apresentou as melhores condições comerciais e operacionais, garantindo o abastecimento do país sem comprometer as reservas cambiais”, referiu uma fonte oficial.
Consumo e Pressão Cambial
Estima-se que Moçambique gaste em média 100 milhões de dólares mensais – aproximadamente 6,3 mil milhões de meticais – em importações de combustíveis. Este valor tem gerado impacto negativo nas importações de outros bens essenciais, como medicamentos e trigo, agravando o custo de vida para as famílias moçambicanas.
Com este novo acordo, o Governo pretende aliviar essa pressão e garantir previsibilidade ao sector energético e económico em geral.
Perspectivas Futuras
A medida é vista como uma tentativa de restaurar a confiança no sistema de abastecimento nacional e de criar estabilidade no mercado cambial, permitindo que o país se posicione melhor para enfrentar choques externos e flutuações do mercado internacional de energia.
“O fornecimento contínuo e sustentado de combustíveis é um pilar fundamental para o funcionamento da economia e para o bem-estar das populações”, concluiu o porta-voz do Governo durante o anúncio.