
Governo endurece medidas contra líderes religiosos que prometem curas milagrosas sem resultados concretos
O Presidente de Burkina Faso, Ibrahim Traoré, anunciou uma medida inédita e controversa no combate ao charlatanismo religioso: pastores e profetas que prometem curas milagrosas a fiéis, e não comprovam os resultados dessas promessas, poderão ser detidos e responsabilizados criminalmente.
A declaração foi feita durante um discurso oficial transmitido pela televisão nacional, onde o Chefe de Estado classificou certos líderes religiosos como falsos profetas que “exploram a fé do povo para benefício próprio, criando falsas esperanças e desviando a atenção dos problemas reais do país”.
Cura como promessa jurídica?
Segundo o novo posicionamento, se um líder religioso prometer a cura de uma doença específica a um crente — por meios supostamente sobrenaturais — e essa cura não se verificar, poderá ser acusado de fraude espiritual e abuso de confiança.
“É hora de responsabilizarmos quem se diz enviado de Deus, mas age como comerciante de ilusões”, afirmou Traoré, prometendo a criação de uma comissão especial de verificação para investigar tais práticas.
Reações divididas entre fiéis e igrejas
A medida causou reações mistas. Alguns sectores religiosos consideraram a ação como uma interferência inaceitável na liberdade de culto. “A fé não se pode medir com testes científicos. O milagre é espiritual, não contratual”, disse um pastor evangélico de Ouagadougou.
Já para organizações de direitos humanos e líderes comunitários, a medida pode significar um avanço na proteção dos mais vulneráveis contra manipulação religiosa. “Há pessoas que abandonam tratamentos médicos em nome de promessas de cura que nunca acontecem. Isso precisa ser combatido”, reforçou uma ativista local.
África e o fenómeno dos falsos milagres
O fenômeno dos “profetas milagreiros” é amplamente documentado em vários países africanos, onde igrejas independentes têm crescido rapidamente. Pastores que alegam fazer ressuscitações, multiplicações de dinheiro ou curas instantâneas tornaram-se comuns — frequentemente sem qualquer supervisão das autoridades.
Com esta decisão, Burkina Faso se torna o primeiro país africano a declarar abertamente que a fé não poderá ser usada como escudo para práticas fraudulentas. Ainda não se sabe como será implementado o controlo das ações religiosas, mas a medida já gera debates em todo o continente.