Sessão decisiva para o mandato de Manuel de Araújo é adiada após ação de ex-combatentes
Quelimane, Moçambique
Uma atmosfera carregada de tensão tomou conta do centro político da cidade de Quelimane na manhã de quinta-feira (15), quando um grupo de ex-guerrilheiros da RENAMO cercou o edifício do Conselho Autárquico. A ação foi motivada pelo alegado afastamento do presidente do município, Manuel de Araújo, articulado por membros da Assembleia Autárquica local.
A sessão, que muitos consideravam decisiva para o futuro político de Araújo, foi abruptamente adiada. As portas de acesso à sala das sessões foram trancadas desde cedo, impedindo o acesso dos membros da assembleia e instalando um clima de impasse. Durante horas, o edifício esteve rodeado pelos ex-combatentes, que afirmaram ter sido convocados pela delegação provincial da RENAMO para garantir uma suposta “ordem institucional”.
Fontes locais revelam que a tensão se intensificou quando circularam rumores de que o afastamento de Araújo seria conduzido sem amplo debate nem transparência. Manuel de Araújo tem estado sob pressão crescente, não só da oposição como também de figuras dentro da sua própria formação política. As acusações contra sua gestão incluem alegações de não pagamento de salários a funcionários municipais, uso indevido de fundos para viagens oficiais e suposta centralização de poder na administração local.
Em entrevista à imprensa, Manuel Tomé, presidente da Assembleia Autárquica de Quelimane, alegou que o adiamento da sessão se deveu à entrega tardia dos expedientes às bancadas parlamentares, o que impediu uma análise prévia adequada dos documentos. “O processo deve seguir os trâmites legais. Não podemos decidir com base em documentos que chegam no mesmo dia”, afirmou Tomé.
A presença de antigos combatentes armados no perímetro do Conselho Autárquico levantou preocupações entre os cidadãos e ativistas da sociedade civil, que alertaram para o risco de militarização do debate político. “Esta situação é um reflexo da fragilidade das instituições democráticas locais. Quando ex-combatentes são chamados a proteger interesses políticos, perdemos o rumo da legalidade e da convivência cívica”, declarou um analista político ouvido pelo Radar Info Mz.
Nos últimos anos, Manuel de Araújo tornou-se uma figura polarizadora em Quelimane, ora elogiado pela população pela sua postura combativa, ora criticado por seus adversários pela forma como conduz os assuntos do município. Eleito inicialmente com apoio da RENAMO, Araújo passou a enfrentar oposição crescente, inclusive dentro da mesma estrutura partidária, sinalizando possíveis fraturas internas.
Até ao momento, não há nova data marcada para a realização da sessão, e o ambiente político permanece tenso. A delegação da RENAMO em Quelimane não emitiu nota oficial sobre a presença dos ex-guerrilheiros, limitando-se a declarar que a sua presença foi apenas "preventiva".
A situação ainda está em desenvolvimento, e a população permanece atenta aos próximos passos do processo político que poderá redefinir o futuro da governação local em Quelimane.
Fonte: Moçambique é Você News