
Greve de “chapas” denuncia corrupção policial e deixa centenas de passageiros sem transporte
Os transportadores semi-colectivos de passageiros, vulgarmente conhecidos por chapas, que operam na rota Anjo Voador – Praça dos Combatentes (Baixa/Xiquelene), na cidade de Maputo, paralisaram as suas actividades na manhã desta segunda-feira, em protesto contra alegadas cobranças ilícitas e extorsões por parte da Polícia de Trânsito (PT).
O cenário gerou congestionamento e frustração entre os utentes do transporte público urbano, muitos dos quais foram obrigados a percorrer longas distâncias a pé ou a recorrer a alternativas informais e mais dispendiosas.
Denúncias de corrupção e apreensões abusivas agravam clima de tensão
Segundo os transportadores, os agentes da Polícia de Trânsito têm intensificado, nos últimos dias, a apreensão arbitrária de cartas de condução, exigindo em troca pagamentos que oscilam entre mil e cinco mil meticais para devolver os documentos retidos.
“Nós não conseguimos fazer esse valor. E o que mais nos dói é que nem o pouco que cobramos conseguimos levar para casa”, declarou um dos motoristas em entrevista à Miramar. Os transportadores acusam ainda a polícia de estar a comprometer as receitas diárias, incluindo valores destinados ao reabastecimento de combustível.
“Já estamos cansados disso. A nossa praça é muito pequena e tem muitos carros”, acrescentou outro operador, apelando à adoção de abordagens pedagógicas e não repressivas por parte das autoridades.
Autoridades reúnem-se para tentar resolver impasse
Face ao escalar das tensões, representantes da Polícia de Trânsito, da Associação dos Transportadores e da Direcção Municipal de Transportes estão, segundo avançou o Notícias, reunidos em busca de uma solução conciliatória para pôr fim ao impasse e evitar o agravamento do caos no sistema de mobilidade urbana.
A paralisação vem reacender o debate sobre práticas abusivas das forças de fiscalização e a falta de regulação transparente no setor dos transportes semi-colectivos em Maputo, uma questão cíclica que continua sem uma resposta estrutural.
Impacto social e chamada à responsabilidade institucional
A crise evidencia a fragilidade da relação entre operadores informais e o Estado, revelando falhas na gestão do transporte urbano e na confiança entre os cidadãos e os agentes da autoridade. Analistas defendem que a solução passa por reformas urgentes no sistema de fiscalização, com foco na desburocratização, educação cívica e combate à corrupção.
Enquanto isso, os utentes continuam a ser os maiores prejudicados, enfrentando dificuldades de locomoção, atrasos laborais e custos acrescidos num contexto económico já desafiante.