Mais de 600 crianças desnutridas morreram no norte da Nigéria desde o início de 2025. O alerta é da organização Médicos Sem Fronteiras (MSF), que denuncia o esgotamento da ajuda humanitária na região.
Dados alarmantes revelam colapso nutricional
Somente no estado de Katsina, as equipas da MSF trataram quase 70.000 crianças com desnutrição durante o primeiro semestre do ano. Entre esses casos, cerca de 10.000 exigiram hospitalização imediata.
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De forma preocupante, a MSF registou um aumento de 208% nos casos de edema nutricional — a forma mais letal de desnutrição infantil — em comparação com o ano anterior.
“Infelizmente, 652 crianças já morreram em nossas instalações este ano devido ao atraso no acesso ao tratamento”, declarou a organização em comunicado emitido na sexta-feira.
Redução da ajuda internacional agrava crise
A emergência nutricional avança enquanto os recursos internacionais diminuem drasticamente. A MSF cita os cortes na ajuda externa promovidos pelo presidente dos EUA, Donald Trump. Também o Reino Unido e a União Europeia reduziram significativamente os seus apoios.
Além disso, os preços dos alimentos continuam a subir. A violência jihadista e a atuação de gangues criminosas impedem o trabalho agrícola em muitas regiões. Ao mesmo tempo, fenómenos climáticos extremos dificultam a produção de alimentos.
Impacto devastador sobre mães e crianças
“A verdadeira escala da crise excede todas as previsões”, afirmou Ahmed Aldikhari, representante da MSF na Nigéria.
Um inquérito recente da organização com 750 mães revelou que mais de metade sofria de desnutrição aguda. Entre elas, 13% apresentavam quadros graves e necessitavam de tratamento urgente.
Autoridades reconhecem crise, mas contestam números
As autoridades locais admitem que a situação é grave. No entanto, questionam a dimensão dos números apresentados. “Sim, há mortes, mas esses números podem estar exagerados”, afirmou Abdulhadi Abdulkadir, agente de nutrição do estado de Katsina.
Ele confirmou que a desnutrição atinge com mais força o norte, onde o clima seco do Sahel limita a agricultura. Enquanto isso, no sul — apesar de mais fértil — a violência de grupos armados também impede a produção agrícola.
O governo estadual aumentou o orçamento destinado à nutrição para ₦ 1 bilhão (cerca de 660 mil dólares) este ano.
Futuro incerto com cortes iminentes na ajuda
Apesar dos esforços locais, o Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas alertou para o risco de suspender a ajuda emergencial a 1,3 milhão de pessoas até o final de julho. A decisão ocorre devido à escassez crítica de financiamento global.
Dessa forma, milhões de nigerianos enfrentam uma fome aguda. Sem novas fontes de financiamento, a crise pode agravar-se ainda mais nas próximas semanas.