
Conflito em Cabo Delgado e catástrofes naturais mantêm milhares em situação crítica
O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) estima que mais de 577 mil pessoas continuam deslocadas na região Norte de Moçambique, devido à insurgência armada que assola a província de Cabo Delgado desde 2017.
“Mais de 577 mil pessoas permanecem deslocadas internamente devido ao conflito em curso em Cabo Delgado, onde grupos armados não estatais realizam repetidos ataques contra civis e infra-estruturas”, indica o relatório de actualização operacional da entidade.
Além do conflito, o ACNUR revela que quase 140 mil pessoas permanecem deslocadas devido a desastres naturais, nomeadamente três ciclones que entre Dezembro e Março provocaram 175 mortes e destruição generalizada no Norte e Centro do País.
Crise climática agrava vulnerabilidades nas comunidades de acolhimento

Moçambique acolhe ainda cerca de 25 mil refugiados e requerentes de asilo, maioritariamente oriundos da África Central e Oriental, muitos dos quais vivem em situação de deslocamento prolongado há mais de uma década.
“Muitos dos distritos mais atingidos pelos ciclones já acolhiam inúmeros deslocados internos, o que agrava as desigualdades existentes, sobrecarrega os serviços locais e aumenta as vulnerabilidades das comunidades anfitriãs”, alerta o organismo das Nações Unidas.
Apesar de mais de 610 mil deslocados já terem regressado às suas zonas de origem, muitos ainda enfrentam condições precárias, com falta de abrigo digno, acesso limitado a serviços básicos, riscos de protecção e escassos meios de subsistência.
Financiamento insuficiente compromete resposta humanitária
Para 2025, o ACNUR estima necessitar de 42,7 milhões de dólares para assistência humanitária no Norte do País. No entanto, até Março, apenas 25% desse valor tinha sido disponibilizado, colocando em risco operações essenciais.
Nova escalada de ataques em Niassa e alerta internacional
Em 29 de Abril, um acampamento turístico de caça desportiva na Reserva Especial do Niassa foi atacado por homens armados, causando dois mortos e dois desaparecidos. Trata-se do segundo incidente do género naquela área em menos de uma semana.
Relatos locais indicam que o grupo armado invadiu aldeias da reserva, provocando pânico. A Polícia da República de Moçambique (PRM) está a investigar os acontecimentos. O ministro da Defesa, Cristovão Chume, confirmou a presença de grupos terroristas na região.
O Reino Unido e os Estados Unidos emitiram alertas aos seus cidadãos, recomendando precaução nas viagens a certas regiões do Niassa e Cabo Delgado.
Violência armada continua a causar mortes em Cabo Delgado
Desde Outubro de 2017, Cabo Delgado — rica em gás natural — vive sob ataques de grupos extremistas islâmicos. Em 2024, pelo menos 349 pessoas morreram em ataques, um aumento de 36% em relação a 2023, segundo o Centro de Estudos Estratégicos de África (ACSS).
O ataque mais recente de grande escala ocorreu entre os dias 10 e 11 de Maio de 2024, quando cerca de 100 insurgentes invadiram Macomia. O confronto com as Forças de Defesa e Segurança de Moçambique, apoiadas por tropas do Ruanda, resultou em várias mortes e intensa destruição.