
Maputo — O ambiente de negócios em Moçambique continua refém de ameaças persistentes, com destaque para os raptos, protestos e instabilidade política, factores que estão a travar o crescimento das Pequenas e Médias Empresas (PME). Apesar das promessas do novo Governo, a retoma económica permanece uma miragem para milhares de empreendedores.
Ambiente empresarial hostil mina a retoma
O presidente do Conselho de Administração da Associação Moçambicana das Pequenas e Médias Empresas (APME), Inocêncio Paulino, afirma que o sector empresarial vive uma sucessão de obstáculos desde a pandemia da covid-19. “O ambiente empresarial continua tóxico e inibidor, com fracas políticas de incentivo, insegurança urbana e sinais fracos de recuperação económica”, declarou.
Segundo Paulino, as PME continuam à margem de grandes reformas e sem acesso facilitado a financiamento, inovação e mercados. “Mesmo com promessas governamentais de um novo ciclo, os riscos antigos permanecem intactos”, frisou.
Dados económicos mostram recuos preocupantes
Após uma forte contração em 2020, com o Produto Interno Bruto (PIB) a cair -1,2%, o país registou uma ligeira recuperação nos anos seguintes: 2,9% em 2021, 4,4% em 2022 e 5,4% em 2023. Contudo, a economia desacelerou novamente para apenas 1,85% em 2024, um sinal claro de que a base de recuperação é frágil e vulnerável aos choques internos e externos.
PME sem fôlego para crescer
As PME representam uma fatia significativa do tecido empresarial moçambicano, mas enfrentam desafios estruturais profundos, como burocracia excessiva, falta de crédito, insegurança jurídica e ausência de mecanismos reais de apoio público.
“Não há um verdadeiro plano de resgate para as PME. Enquanto o ambiente de insegurança e instabilidade persistir, continuaremos a ver empresas a encerrar ou a operar na informalidade”, advertiu Paulino.
Linha do tempo dos principais impactos nas PME (2020–2024)
- 2020: Pandemia da covid-19 causa colapso no consumo e fecha milhares de negócios.
- 2021: Recuperação lenta e ausência de incentivos fiscais concretos.
- 2022: Aumento dos raptos e insegurança agrava incerteza no investimento.
- 2023: Protestos laborais e conflitos políticos afetam estabilidade operacional.
- 2024: Promessas de reformas, mas desaceleração do PIB evidencia clima de estagnação.
Um apelo a reformas reais e sustentáveis
O sector empresarial pede medidas estruturais, como reformas fiscais inclusivas, combate à corrupção, segurança urbana e políticas de incentivo ao investimento local. “As PME são o motor da economia, mas estão a ser ignoradas numa altura em que mais precisam de suporte”, lamentou.
Enquanto não forem criadas condições reais para a actividade empresarial, os riscos continuarão a sufocar qualquer iniciativa de crescimento e inovação.