
Ex-edil de Nacala aponta crise de liderança e ausência de democracia interna na Renamo
O antigo presidente do Conselho Municipal de Nacala-Porto, Raúl Novinte, voltou a lançar duras críticas contra a actual liderança da Renamo, acusando o presidente Ossufo Momade de ser o principal obstáculo à reestruturação e revitalização do partido. Numa publicação recente do portal Ngani, Novinte apelou à demissão imediata de Momade, alegando que o partido está mergulhado numa crise sem precedentes devido à centralização excessiva de decisões e à falta de democracia interna.
“O maior entrave ao progresso da Renamo é o seu próprio presidente. Não cumpre as orientações dos membros e ignora a necessidade urgente de reestruturar o partido após as derrotas nas últimas eleições”, afirmou Novinte, lembrando que as tensões internas vêm se agravando há anos, com destaque para episódios recentes de invasões em delegações por membros descontentes.
Nomeações arbitrárias e exclusão de vozes críticas
O político denuncia que os delegados políticos, tanto a nível provincial como distrital, têm sido nomeados directamente por Momade, sem qualquer processo democrático, contrariando os princípios fundadores da Renamo.
“Como pode um partido que se diz defensor da democracia funcionar com base em nomeações? Não há estratégia, não há ambição. O partido está desorganizado”, questionou, em tom crítico, acusando a liderança de se afastar da base e ignorar vozes reformistas.
Novinte recorda ainda a falta de acção da liderança durante momentos críticos, como no processo de Desmilitarização, Desmobilização e Reintegração (DDR) dos ex-guerrilheiros. Para ele, o DDR foi um fracasso, e Momade nada fez para evitar o desgaste do partido junto do eleitorado.
Acusações de ditadura interna
“Em 2023, quando protestámos contra os resultados eleitorais, o presidente disse que estava doente. Fomos presos, impedidos de falar, e orientados a calar. Foi aí que percebi que estávamos numa ditadura interna”, revelou, destacando o silêncio da liderança mesmo após a vitória da Renamo em algumas autarquias.
O ex-edil também denunciou a sua exclusão e de outras figuras relevantes do último congresso do partido, realizado em Alto Molocué, província da Zambézia. “Fomos afastados, eu e o Venâncio Mondlane, porque defendíamos ideias e visão para o futuro. Esta liderança não aceita divergências”, lamentou.
Apelo ao resgate dos ideais históricos da Renamo
Apesar das divergências, Raúl Novinte reafirma o seu compromisso com os ideais da Renamo, mas frisa que o problema está na actual liderança. “A Renamo está doente. A cura passa pela saída de Ossufo Momade e da sua comissão política. Nem na sua terra natal, Nampula, ele tem apoio”, declarou.
Encerrando a sua declaração, o político apelou à união dos membros da Renamo para um movimento de resgate da dignidade do partido. “Entrámos para esta luta por acreditar na democracia. Agora, lutamos para resgatar o partido que um dia prometeu mudar Moçambique”, concluiu.
Raul Novinte garante que continuará a mobilizar a base da Renamo, na esperança de ver o partido reencontrar o seu rumo original e se reposicionar como verdadeira força democrática.